terça-feira, novembro 04, 2008

TEXTO 5 - História do Paraná: a erva-mate

A erva-mate - século XIX
Características da erva-mate

Curitiba e Paranaguá já no século XVIII receberam do rei de Portugal autorização especial para comercializarem madeira, cal de ostras, telhas, tijolos, produtos agrícolas, erva-mate, com a região platina. Esta abertura, no entanto, não foi aproveitada. Isto tudo vai se alterar no início do século XIX, graças ao interesse na erva-mate paranaense, quando por volta de 1820, o argentino Francisco Alzagaray vem a Paranaguá, movido por este interesse. Primeiramente aperfeiçoaram a técnica de erva-mate, segunda as exigências do consumidor platino, e depois dinamizaram a exportação. A partir de então se abre para o Paraná uma nova fase de desenvolvimento, fundamentada na erva-mate.

Sapeco da erva-mate (sem data)

A erva-mate era árvore nativa que crescia entre os pinheirais, sendo velha conhecida dos povos nativos que usavam suas folhas como chá. A palavra mate deriva do quíchua mati que designa a cuia, ou seja, o recipiente onde o chá era bebido ou sorvido por um canudo (bomba). Os primeiros a fazerem uso da erva-mate foram os índios Guarani. Estes habitavam as regiões definidas pelas bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, na época da chegada dos colonizadores espanhóis.
Inicialmente, era tida como como bebida mágica, utilizada pelos pagés. Devido a isto fora reprimida pelos espanhóis. Segunda a tradição, os padres missioneiros teriam apoiado a difusão do consumo do mate para fcilitar a repressão das beberagens tradicionais dos guaranis, realizadas com bebidas fermentadas de amendoim, mandioca, mel, milho, etc. Diariamente era distribuída, dentro das reduções, uma cuia e erva-mate as famílias dos guaranis.

Colheita de erva mate as marges do rio Paraná pelos nativos

Da metade do século XVI até 1632 a extração de erva-mate era a atividade econômica mais importante da Província Del Guairá, território que abrangia praticamente o Paraná. A erva-mate foi classificada em 1820 pelo botânico francês Saint-Hilaire, após observar os ervais nativos em uma fazenda nas proximidades de Curitiba.
As relações entre Paraguai e Argentina explicam o interesse dos argentinos pelo mate paranaense. Em 1813 o governador do Paraguai, Dr. Francia, movido por razões nacionalistas, restringiu o comércio de seu país com Argentina e Uruguai. A guerra do Paraguai (1964-1970) também dificultou a comercialização da erva. Sem o mate paraguaio, os argentinos apelaram para as reservas paranaenses proporcionando grande impulso ao progresso do Paraná. Em 1826 o mate representava 70% das exportações paranaenses e permaneceu como riqueza principal até 1930, quando se fortaleceram os ciclos da madeira e do café. A atividade ervateira estava ligada à mão-de-obra escrava, semi-escrava e livre. A população de Curitiba em 1767 contava com 1968 habitantes, sendo que 47% deles eram escravos.


O processamento
Na preparação da erva-mate destacam-se duas fases distintas: a primeira no erval, a segunda nos engenhos. O preparo do mate nos ervais inicia-se com a colheita, feita a facão ou a foice, atravessadamente de baixo para cima. A hora propícia a esta operação influencia na qualidade do produto, pois é necessário que as folhas do mate não estejam molhadas pelo sereno, devendo a colheita ser realizada nas primeiras horas de sol. O processo de produção do mate nos engenhos inclui diversas fases:
  1. A coleta ou poda;
  2. A sapeca;
  3. O quebramento;
  4. A confecção de fardos;
  5. A secagem do canijo;
  6. O cancheamento e
  7. O soque.
Coleta

Sapeca






Soque (monjolo)

Inicialmente o soque dependia do pilão e do braço escravo. Depois contou com a energia hidráulica (monjolo) ou a vapor. Para condicionamento utilizavam-se cestas de taquara, surrões de couro, ou barricas de madeira.


As barricas


O transporte da erva-mate do centro produtor (Curitiba e arredores) para os portos (Paranaguá, Morretes e Antonina) era dificultado pela Serra do Mar. Da mesma forma que os cativos trabalhavam no processo de produção, ficavam encarregados de transportar o produto até o porto.


Antonina


Joseph Keller - vista de Curitiba, 1865


Vista de Morretes (Theodoro De Bona)
Tropa carregada de erva-mate descendo a Serra do Mar


Com a melhoria dos caminhos veio o transporte muar (caminho de Itupava e Graciosa). A partir de 1873 a estrada da Graciosa permitiu o trânsito dos carroções eslavos e em 1885 foi inaugurada a estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, ligando definitivamente o planalto de Curitiba ao litoral, facilitando o transporte do produto.


Carretas de erva-mate

A exploração, comercialização e industrialização da erva-mate, assim como a construção de engenhos, iniciaram no litoral (Antonina, Paranaguá e Morretes). A partir de 1850 os engenhos se deslocaram para Curitiba.


Travessia dos ervateiros pelos rios

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