terça-feira, março 01, 2011

Porque a Alemanha se preparou para a guerra?

Essa é uma pergunta pouco discutida nas salas de aula, quando o tema é 2ª guerra mundial. Poderia outro país ter ocupado o lugar alemão e provocado a mesma guerra? Para sabermos essa resposta, temos que voltar no tempo e analisarmos a realidade germânica posterior a 1ª guerra mundial (1914-18). É necessário avaliarmos profundamente a sociedade na Alemanha que construiu o Partido Nazista, Hitler, Gestapo e toda a política genocida alemã na terceira e quarta década do século XX. 



A Alemanha, a exemplo da Itália, teve sua unificação tardia, ocorrendo somente em 1871. Na antiguidade eram os povos germânicos, na Idade Média o Sacro Império Romano-Germânico, no século XVII veio a primeira união, através da Confederação do Reno. Em 1834 a Congresso de Viena aceitou a unificação dos povos de língua germânica que ficassem sob uma única nação.  A Confederação Germânica abrangeu os seguintes territórios:

  • Alemanha
  • Áustria (todos os estados exceto Burgenland)
  • Luxemburgo
  • Liechtenstein
  • Países Baixos (província de Limburgo - A província juntou-se à Confederação depois de 1839)
  • República Tcheca
  • Eslovênia (exceto Prekmurje)
  • Polônia (Cujávia-Pomerânia, Lubúsquia, Baixa Silésia, Opole, parte da voivodia da Silésia); temporariamente: Território de Posen (atual Poznań), anteriormente sudeste da Prússia, anteriormente cidade livre de Danzig (atual Gdansk)
  • Bélgica (comunidade belga germanófona e alguns outros territórios no leste da província de Liège); a província de Luxemburgo deixou a Confederação quando aderiu à Bélgica em 1839
  • Itália (as regiões autônomas do norte: Friuli-Venezia Giulia e Trentino-Alto Ádige/Südtirol)
  • Croácia (condado da Ístria)
  • A coroa dinamarquesa foi membro somente por sua qualidade de chefe do ducado de Holstein. Schleswig primeiro aderiu como parte do Reino da Prússia em seguida à Guerra dos Ducados (1864). 
  •  

     Mapa da Unificação da Alemanha.

    A Unificação Alemã foi um processo que foi finalizado em 1871, integrando definitivamente diversos estados germânicos em apenas um: a Alemanha. O processo foi liderado pelo primeiro-ministro prussiano Otto von Bismarck, e culminou com a formação do Segundo Reich (Império) alemão. A classe hegemônica dirigente desse novo país era da aristocracia prussiana, grandes proprietários de terras, conservadora e protestante.

     Bismark ao lado de Moltke, chefe de Estado-Maior, e Roon, como ministro da Guerra

    Era essa classe quem fornecia os quadros da administração e do exército. A essa classe, chamada de junkers, juntava-se os grandes empresários, militares de elite e adeptos do pangermanismo. O país se desenvolveu em cima de uma economia de guerra, o país cresceu juntamente com a população, que viu no início do século, uma guerra devastar a Alemanha. 

    A massa de trabalhadores urbanos se concentrava nas fábricas e representavam quase a metade da população ativa. Não demorou para o socialismo penetrar nessas massas de operários, que sob a influência de sindicatos ligados ao Partido Social-Democrata Alemão logo ganharam espaço e adeptos. Em 1917, influenciados pela revolução russa, militantes revolucionários romperam com a social democracia. Sob a liderança de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, o movimento ganhou mais força dentro da Alemanha.

    Rosa Luxembrugo e Karl Liebknecht

    Cada vez mais apareciam grupos revolucionários com idéias separatistas. Mesmo com a república proclamada em 1918, além de concessões como direito a voto, jornada de trabalho de 8 horas, o grupo social-democrata não estava disposto a aplicar o socialismo no país. A intenção continuava sendo apenas uma república constitucional e liberal. Em dezembro houve o primeiro levante socialista, que derrubou Berlim nas mãos dos revolucionários. Governo e exército aplicaram a força e retomaram o poder, executando suas lideranças, entre elas Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.

    República de Weimar
    A situação social acelerou a convocação de uma Assembléia Constituinte para o ano seguinte. Nem extrema esquerda e nem sociais-democratas obtiveram maioria. A nova constituição criava uma república, composta por dezessete estados, federalista, democrática, liberal e parlamentarista. O presidente era eleito por sufrágio universal e a gestão duraria sete anos.
    Ao final, as principais tendências representadas nessa nova república eram as seguintes:
    • Partido Nacional – grandes proprietários;
    • Partido Democrata e Populista– grande burguesia capitalista;
    • Partido de Centro Católico – pequenos proprietários do sul e oeste da Alemanha;
    • Partido Social-Democrata – operários marxistas e sindicalizados das regiões protestantes.

    A inflação e a desvalorização do marco alemão frente ao dólar criavam tensões e crises políticas no país.

    Tabela de desvalorização da moeda alemã em relação ao dólar

    Em 1923 a situação complicou, os franceses ocuparam a região do Ruhr, área industrial, como garantia do pagamento das indenizações estipuladas pelo Tradado de Versalhes. O Marco alemão caiu ainda mais, assim como o salário. Greves e insurreições eclodiram em toda a parte, cresceu o descontentamento popular devido a precária situação econômica. Em meio a esta realidade, o Partido Nacional-Socialista, liderado por Hitler e apoiado pelo general Ludendorff, tentou um golpe de Estado em Munique. Pretendia fazer uma revolução no país, acusando capitalistas e judeus que conspiravam contra a república.

    Mapa do Vale do Ruhr, região rica onde se concentravam as indústrias alemãs

    A crise de 1929 pegou em cheio a economia germânica. A Alemanha não podia mais pagar as indenizações de guerra, seus produtos industrializados não encontrava mercados, resultando nu,malto índice de desemprego. Essa crise provocou uma onda de anti-semitismo, que identificava os judeus com dinheiro, a usura e o capitalismo internacional como os grandes problemas do país. Foram as condições necessárias para o crescimento do nazismo e o fortalecimento de Hitler como principal liderança alemã.

    A partir da reorganização do partido nazista, Hitler ganhou cada vez mais espaço dentro da sociedade germânica. Em 1933 Hitler foi escolhido para ser o Chanceler alemão, sob aplausos da maioria. Em 23 meses Hitler realizou perseguições, golpes, assassinatos e implantou uma ditadura pessoa. O clima na Alemanha era de total terror. As eleições seguintes serviram para apontar para onde estava indo o país. Reuniões invadidas, jornais depredados, líderes assassinados, tudo feito sob encomenda de Hitler, que ao mesmo tempo jogava a culpa nos comunistas.

    Os nazistas obtiveram 44% dos votos, enquanto que os comunistas eleitos, cerca de 81, foram excluídos do parlamento. A pena de morte foi restabelecida, a igreja apoiou abertamente o nazismo e Hitler conseguiu do parlamento plenos poderes. Em 30 de junho de 1934, centenas de opositores, de dentro ou fora do exército, foram perseguidos e metralhados. Um alívio para os generais, que viam perigo nesses opositores. O acordo entre o nazismo e o papa Pio XI, a concordata, impunha aos bispos o dever de prestar juramento ao chanceler. Muitos pastores se recusaram e acabaram indo para os primeiros campos de concentração.

    O regime federalista foi suprimido, e os Estados receberam chefes indicados por Hitler. A Assembléia do Reino (Reichsrat) foi dissolvida. A bandeira do Partido Nazista, com a suástica foi adotada em todo o país. Grandes manifestações anuais do partido juntaram-se ao cotidiano da Alemanha. Os judeus foram duramente perseguidos, excluídos completamente da vida alemã. A partir de 1938 a violência contra eles cresceu, sinais identificadores, espancamentos, proibição de sair do país. Einstein, Thomas Mann assim mesmo conseguiram fugir. O Estado fixava jornadas de trabalho, salários, lucros, as liberdades foram suprimidas, como o direito a greve. Numerosas obras como aeroporto, estradas, estradas de ferro foram construídas para absorver a mão-de-obra.

    A indústria bélica estava sendo desenvolvida secretamente. Em 1939 a indústria alemã era a segunda do mundo. Faltavam, entretanto, minerais para desenvolver a siderurgia. A agricultura supria somente 75% das necessidades do país e para que a indústria bélica tivesse sucesso, era necessário mais matéria prima. A indústria de bens de consumo estava ficando estagnado, assim como o comércio exterior. Cada vez mais ficava claro para a Alemanha que a tese expansionista poderia ser a solução.

    Portanto, respondendo a pergunta inicial, se outro país poderia ter provocado a guerra no lugar da Alemanha? Qualquer um poderia, mas somente a Alemanha criou as condições necessárioas para que fosse a protagonista do evento militar. As pesadas punições da primeira guerra mundial contribuíram para construir um sentimento de revanche no país. Aliado a isso, havia o fato de que a Alemanha demorou muito para unificar o país. Faltava aos germanos  uma identidade nacional, que o discurso nacionalista de Hitler encontrou respaldo. 

    Certamente uma coisa levou a outra: a mente doentia de Hitler e de vários alemães e a necessidade do país sair de uma crise econômica pelo viés militar. As condições para a guerra, nazismo e autoritarismo estava dado.

    2 comentários:

    Anônimo disse...

    ola, vi seu comentário no meu blog : ligação histórica, e estou aqui retribuindo a visita e ja seguindo o seu blog, gostei muito do post!

    Anônimo disse...

    ola, vi seu comentário no meu blog : ligação histórica, e estou aqui retribuindo a visita e ja seguindo o seu blog, gostei muito do post!