A crise de 1929 e o New Deal
Ao findar a 1ª Grande Guerra, os EUA assumiram a hegemonia econômica mundial, passando de país devedor a grande potência no mercado internacional. Os empréstimos vultuosos a outros países auxiliaram a reconstrução da Europa, ao mesmo tempo mantinham em níveis elevados as exportações para esses países.
Graças a essa política, favorecida pela guerra na Europa, os americanos garantiram elevado crescimento econômico e alto grau de desenvolvimento, aliado a uma ociosidade de capital. Internamente, desde o final da guerra, os Estados Unidos tiveram vários presidentes republicanos. Após Woodrow Wilson que era democrata, Warren Harding, Calvin Coolidge e Herbert Hoover foram todos presidentes republicanos, defensores do isolacionismo e do liberalismo econômico.
Esta postura entre os republicanos amparava-se na Doutrina Monroe, “A América para os americanos”. Os Estados Unidos acabaram não participando ativamente da Liga das Nações, o que contribuiu para seu enfraquecimento e o fortalecimento de regimes totalitários na Europa. Obedecendo esta relação de isolamento e liberalismo, os presidentes norte-americanos de 1920 a 1932 assistiram impassíveis a evolução econômica rumo ao caos, no final da década de 20.
A forma de vida típica dos norte-americanos passou a ser considerada como exemplo da moderna civilização ocidental: a construção de altíssimos edifícios, a multiplicação das residências, dos carros, dos aparelhos domésticos. Esse estilo de vida atenuava as diferenças sociais: o crédito permitia a todos adquirirem um carro ou uma casa. O rádio e o cinema, bem como as diversões públicas, tiveram grande desenvolvimento.
Os atores Douglas Fairbanks e Mary Pickford vestindo a moda da década de 20.
Era igualmente intenso o ritmo de crescimento da produção americana, devido a aceleração do progresso técnico decorrente da utilização mais racional da mão-de-obra e ao processo de concentração industrial, que aumentava a capacidade produtiva das empresas pela utilização mais racional dos seus recursos. Por outro lado, os investimentos maciços ampliavam enormemente a produção, permitindo a redução dos preços, bem como os investimentos crescentes dos capitalistas americanos no exterior. O montante desses investimentos elevava-se a 17 bilhões de dólares em 1929, considerando-se apenas o Canadá, a Europa e a América Latina.
Centro financeiro americano em Nova York (1929).
Por todas essas razões os Estados Unidos concentravam, em 1929, 44,8% da produção industrial do mundo. As sociedades financeiras constituídas para a formação de conglomerados, os holdings, que dominavam um grande conjunto de empresas, expandiram-se enormemente: a General Motors produzia 35% dos automóveis; a United States Steel, 32% do aço; a Kodak, 75% dos produtos fotográficos. Não mais do que duzentos holdings tinham o controle de 38% do capital das empresas americanas. Ao mesmo tempo, desenvolveram-se os acordos econômicos internacionais que permitiram o surgimento das multinacionais.
Goldman, Sachs - uma das grandes finaciadoras da época
O crescimento econômico americano em alguns setores estratégicos foi espantoso. A produção industrial cresceu 50% entre 1922 e 1929, e 90% se considerarmos o período de 1921 a 1929. Os Estados Unidos produziram 600.000 automóveis em 1928, correspondendo a 75% da produção automobilística mundial e a 50% do produto nacional bruto americano. Enquanto preços agrícolas caiam, os preços industriais mantinham-se estáveis, e determinando uma elevação em tome de 35% do poder de compra dos consumidores americanos.
Centenas de homens e mulheres na frente da bolsa de valores de NY no dia 24 de outubro de 1929.
A crise de 1929 foi causada, sobretudo, pela insistência norte-americana em manter depois da guerra o mesmo ritmo de produção alcançado durante a guerra, quando abastecia os países envolvidos no conflito, fornecendo e gêneros alimentícios e até produtos industrializados e combustíveis. Terminada a guerra, os países europeus recomeçaram a produção de que durante o conflito importavam dos Estados Unidos. Com isso as exportações e o mercado interno norte-americano viram-se abarrotados de produtos que não conseguia absorver. Proprietário tentando vender carro de luxo por apenas U$100 dólares.
A solução seria reduzir a produção em determinados setores, o que provocaria séria crise econômica e social: em curto prazo a indústria, a agricultura e a mineração teriam que diminuir o movimento de seus negócios, o que representaria baixa nos lucros e maior número de desempregados.
Movimento em frente a bolsa no dia da queda.
A política do governo, por ser liberal, não permitia intervir na produção. Os empresários por sua vez viam seus interesses imediatos, e portanto, ninguém pressentia o real perigo da situação. A crise tinha, entretanto, raízes profundas que penetravam no capitalismo americano. Esses capitais excedentes no mercado americano, foram emprestados a países carentes de reservas financeiras, para que eles pudessem comprar do próprio Estados Unidos, máquinas e acessórios. Outra parte foi emprestada internamente para estimular as compras.
Marcha de desempregados pelo país.
O consumo cresceu nas cidades, enquanto que a produção agrícola sem mercado acabou sendo estocado. Os agricultores e assalariados perderam poder de compra, porque os preços e a produção cresceram desproporcionais aos salários. Por fim, a estrutura bancária americana, formada por 24 mil pequenos bancos, tomava capital emprestado do governo a curto prazo a juros de 5% ao mês, repassando esses empréstimos a uma grande quantidade de devedores, a 12-15%. Os investimentos acabaram porque não havia mais aonde investir, ocorrendo uma redução de lucro e estagnando o processo de acumulação.
Imagem de Salt Late Street, no final da década de 1920.
Na segunda metade do ano de 1929 vários fatores contribuíram para agravar a situação econômica norte-americana. Os capitais investidos por empresários americanos no exterior, com garantia do próprio governo, foram bruscamente retirados. A conseqüência imediata dessa atitude foi a diminuição das exportações americanas. Ainda no plano externo, deve-se considerar a volta da Inglaterra e da França ao comércio internacional, o que também contribuiu para a queda das exportações norte-americanas.
Visão panorâmica de Seattle's Hooverville, em 1937.
No plano interno, os grandes estoques acumulados de cereais começaram a afetar os preços dos produtos agrícolas pelo simples fato de se saberem de sua existência. Os preços foram baixando, tornando difícil a situação dos fazendeiros, que começaram a falir por não poderem pagar suas dívidas. As fazendas passavam a ser propriedades dos bancos. A produção industrial chegou a exceder consideravelmente o consumo; as indústrias começaram a diminuir o ritmo de produção, deixando grandes massas de operários sem emprego. Esses numerosos desempregados não tinham capacidade para comprar nada, o que fazia com que o consumo diminuísse ainda mais. Estava formado um círculo vicioso: quanto mais produtos sobravam, maior paralisação da produção; quanto menos as fábricas trabalhavam, maior era o número dos desempregados, menor o consumo e pior a situação.
A crise refletiu na Bolsa de Valores de Nova York, onde eram negociadas as ações de grandes companhias americanas. A maior parte dessas empresas era de capital aberto, ou seja, nas mãos de muitas pessoas. Como a economia começava a se estagnar, as empresas começaram a perder valor na bolsa. Havia mais gente querendo vender ações do que compradores, o que contribuiu para que os preços caíssem ainda mais. No dia 24 de outubro de 1929, a famosa “quinta-feira negra”, a baixa atingiu valores catastróficos.
Marcha de desempregados em Toronto, Canadá.
A crise se manteve até 1933. A queda das ações arruinou o crédito, cerca de 4 mil bancos foram a falência em três anos, 85 mil empresas fecharam suas portas, agricultores perderam suas terras, os salários tiveram uma redução no seu poder de compra em 20% e se criou uma massa de desempregados que chegou a 20% da população americana.
Quando a crise estourou em 1929, o presidente Hoover, do Partido Republicano, adotou uma atitude passiva, de acordo com o sistema liberal que era comum, sem intervir muito na economia. As atitudes governamentais adotadas foram muito superficiais, causando uma crise no Partido Republicano e abrindo espaço para o candidato de oposição e democrata Franklin Delano Roosevelt vencesse as eleições seguintes. Roosevelt formou no governo uma equipe com as pessoas mais capacitadas do país, influenciadas pelas idéias teóricas do economista inglês J. M. Keynes, ajudando a elaborar um plano econômico com características novas: o New Deal.
Um comentário:
Parabéns. As informações aqui colocadas foram de grande valia para o meu trabalho. Deus abençoe você. Atila Borges
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