quinta-feira, julho 01, 2010



O naufrágio de Colombo: não foi assim, mas poderia ter sido




Outubro de 1492

Santa Maria, Pinta e Nina estão no Atlântico. De repente, um homem grita lá do cesto da gávea: “Tierra à la vista!”. Segue-se um tremendo alvoroço. Todos vão para a amurada. Colombo sobe num barril e diz: “Os bons ventos e meu comando nos trouxeram às Índias. Eu sabia que chegaríamos”. Todos aplaudem.

Mas então começa uma forte brisa. A forte brisa transforma-se em ventania, a ventania em vendaval, o vendaval em tufão e em meia hora os três navios estão em pedaços. Apenas alguns homens conseguem chegar a terra.

Lá são recebidos por índios pouco amistosos e são feitos prisioneiros. Pedaços da madeira das embarcações, jóias, bússolas e até canhões começam a chegar à praia no dia seguinte, trazidos pelas fortes correntes do Caribe.

Os índios forçam os náufragos a mostrar como usar aqueles utensílios. Os espanhóis, sem muita escolha, decidem ensinar tudo o que sabem. Os selvagens aprendem a moldar o ferro, a usar a bússola, a montar barcos e até a construir excelentes canhões. Depois, com seus novos caldeirões de ferro, fazem sopa dos quatro espanhóis. Enquanto isso, na Europa, com o fracasso de Colombo, nasce à crença de que é realmente impossível cruzar o oceano e ninguém mais tenta a travessia.

Setembro de 1792

Sem o ouro e a prata da América, a Europa não consegue financiar seu desenvolvimento. Com a pobreza crescente, uma segunda onda de fome, doenças e peste assola o Velho Continente, que mergulha numa segunda Idade Média. As cidades transformam-se em vilas e os castelos, em ruínas.

Já no Novo Mundo o desenvolvimento se alastra. O continente ficou dividido em cinco grandes países. Do norte para o sul temos:
Os Estados Unidos dos Apaches (EUA),
O Grande País Azteca, o Arquipélago Maia, o Reino Inca, a Confederação Tupi-Guarani. Desenvolvidos tecnologicamente e sedentos de novos mercados, as cinco nações começam um ciclo de navegações para descobrir o que havia no lado leste do mundo.

Agosto de 1892

Depois de cem anos de lutas e conquistas, a Europa está totalmente sob o poder dos americanos. Com a desculpa de se catequizar os europeus, milhares foram mortos e feitos escravos. A religião local, chamada católica, foi extinta e em seu lugar foram instaladas as religiões do Grupo dos Cinco (como ficaram conhecidos os países americanos).

Os europeus tiveram que se contentar com um uma balança comercial extremamente desfavorável. Exportavam apenas matérias-primas e importavam produtos manufaturados. Uma tonelada de trigo pagava apenas alguns metros de seda. A pobreza européia intensificou-se e a riqueza dos Cinco Grandes não parava de aumentar.

Julho de 1992

O mundo inteiro come sanduíches Montezuma's, bebe cauim, vê filmes dos EUA (nos quais os índios sempre matam centenas de brancos) e rezam na Igreja Universal do Reino de Tupã. O único problema é os desempregados ingleses, franceses e alemães que insistem em migrar para o nosso continente.

José Roberto Torero é escritor e colunista do Jornal Folha de São Paulo. Texto publicado na Revista dos Bancários de março de 2001.

Nenhum comentário: