segunda-feira, agosto 23, 2010

O surgimento da sociologia

A Inglaterra sempre foi uma nação poderosa, tanto militarmente quanto economicamente. Devido a sua estratégia econômica de investir nas pequenas indústrias familiares, que fabricavam produtos feitos a mão, sua economia começou a desenvolver-se muito a frente de outras nações européias. Com seu comércio fortalecido, os burgueses ingleses conseguiram acumular grande capital, impulsionando mais adiante a industrialização em seu país.
A sociedade européia até final do século XVIII, na sua maioria, vivia e dependia do que o campo produzia, pois havia grande carência de produtos de consumo diário, como roupas, utensílios domésticos, entre outros. A partir de 1770, os cientistas começaram a desenvolver maquinários que facilitassem a produção de bens em maior velocidade e maior quantidade. A primeira máquina construída foi a de tear a vapor, que impulsionou a indústria têxtil, matéria-prima para a confecção de roupas e produto mais procurado entre os europeus. A partir do mesmo princípio, surgiram outras máquinas utilizando o vapor como motor, contribuindo ainda mais para diversificar os produtos oferecidos no comércio, colaborando para o surgimento de um consumismo desenfreado.




Não demorou muito para que a notícia da industrialização se espalhasse por todo o país, fazendo com que muitos camponeses saíssem das lavouras em direção as cidades, com o objetivo de procurar os produtos e os empregos que as gigantescas fábricas estavam oferecendo. Essas fábricas, verdadeiras cadeias humanas, cresciam em ritmo feroz, oferecendo emprego, produtos e a ilusão de uma vida melhor que aquela que existia no campo. As pessoas que estavam cansadas da exploração do senhor feudal, que cobrava cada vez mais taxas elevadas de impostos, abandonavam o serviço rural, se deslocando aos milhares para as cidades. 
A urbanização na Europa começou de forma ininterrupta e em grandes escalas. Centenas de trabalhadores abarrotavam as cidades, que logo sucumbiu a falta de estrutura. Havia muito mais trabalhadores do que emprego e moradia. Logo surgiram os bairros mais afastados da área central das cidades, sem nenhuma estrutura decente, aglutinando um exército de trabalhadores reservas. Muitos, sem expectativa de emprego, acabavam migrando para o delito, prostituição, violência, etc.
A sociedade que brilhava para o camponês, na verdade se transformou numa ilusão. Se antes eles eram explorados pelo rei e principalmente pelo senhor feudal, tinham pelo menos a terra como um bem responsável pelo sustento da sua família. Agora, a exploração do trabalho fica por conta do burguês, o dono da fábrica e ele não é mais dono de nada. Esse burguês será o responsável pela contratação de muitos operários, que por um salário minguado, abarrotarão as fábricas na Inglaterra. Mulheres, crianças e homens executaram a mesma atividade dentro do local de trabalho, porém com descriminação de salário. Caberá ao homem a melhor remuneração e os melhores cargos.
Ao mesmo tempo em que as fábricas iam surgindo, dentro dela eram criadas diversas funções, fragmentando o trabalho em muitas áreas. Se no antes o artesão fabricava sozinho seu produto, do início ao fim, agora ele ficará responsável somente por uma parte da produção. Isso se chamará de divisão social do trabalho. Uma crítica a esse conceito pode ser visto no cinema ao observarmos o filme de Charles Chaplim, “Tempos Modernos”, produzido em preto e branco no ano de 1933, época em que o cinema ainda era mudo.
Essa profunda transformação ocorrida na Inglaterra acabou chamando atenção dos intelectuais e pensadores. Alguns achavam que havia sido uma mudança positiva para a sociedade na época. Outros intelectuais defendiam a idéia de que essa mudança de fato ocorreu, porém péssima para os trabalhadores, já que eles saíram de uma situação ruim no campo e passaram para outra ainda pior dentro das fábricas. 
Essa mesma sociedade era analisada por diversos pensadores e cada um chegava a uma conclusão diferente. Estava nascendo uma técnica de avaliar o desenvolvimento da sociedade, em todos os seus aspectos. Surgia, portanto, a figura do sociólogo. Os primeiros sociólogos foram Saint-Simon e Auguste Comte. Logo eles influenciaram uma geração, contrários e seguidores, que teve como destaque Emile Durkheim, Karl Marx, Max Weber, entre outros. Esses teóricos criaram algumas escolas de pensamento, como o marxismo e o positivismo, que iremos estudar mais adiante.
Auguste Comte e o positivismo (1798-1857)
Positivismo foi uma doutrina filosófica do século XIX, desenvolvida pelo francês Auguste Comte. Foi a primeira forma de pensamento social. O positivismo derivou da crença do poder exclusivo e absoluto da razão. Acima das explicações teológicas deveria existir uma explicação mecânica sobre a sociedade, algo que se opusesse a igreja. Tornou-se positivismo a expressão renovada do agnosticismo [indiferença a existência de Deus] e do ateísmo. Seriam características teóricas assumidas por cientista, engenheiros e técnicos em geral. 

A importância social e cultural desses cientistas acabou aumentando devido a expansão das indústrias na França, Inglaterra e Alemanha no século XIX. Foi comte quem deu vazão a esse pensamento. Nasceu em Montpellier, França, em 1798, numa época de conservadorismo político na Europa. Foi uma fase em que os governos estavam nas mãos de monarquias e dinastias. Comte questionava esse regime e vislumbrava o surgimento de uma nova era, a chamada Era científica ou positiva. Ele se empenhou para divulgar sua doutrina. 
O projeto inicial abarcou 72 cursos, proferidos primeiro em 1826, e retomados em 1829, tratando da Política Positiva e da Física Social. A derrubada da velha ordem aristocrática e feudal, o declínio do poder da Igreja Católica, o avanço da indústria e da técnica, o crescimento cientifico em geral, a fé otimista no progresso, os impasses entre o liberalismo e o absolutismo, a democracia e a contra-revolução, e uma busca de segurança e estabilidade num período pós-revolucionário, formaram o pano de fundo do comtisno. 
Para ele, o pensamento ao longo da história passava por ciclos, onde um período alternava-se por outro. Era um espiritual que foi substituído pelo período medieval. Nesse período o cristianismo dominava o pensamento. Os iluministas do século XVIII foram responsáveis para dar fim a esse período de dominação do cristianismo, e seu período foi considerado o de um pensamento crítico. Ainda assim, o pensamento crítico era limitado, somente conseguia identificar erros na sociedade, sem conseguir apontar mudanças. A sociedade passava por diversas instabilidades e por conta disso, o desenvolvimento era limitado. 
A humanidade, segundo ele, detestava revoluções e desordens. Comte também não confiava nos políticos e no povo. O sufrágio universal era deplorável e ineficiente. O futuro desejado necessitava de gente preparada. Influenciado por Condorcet, Auguste Comte elaborou uma doutrina: a Lei dos três estados.  
Segundo essa doutrina, a humanidade havia passado por três estágios. O primeiro foi no tempo antigo, que foi dominado pelo Estado teológico. Depois veio a Idade Moderna e o domínio da Metafísica [o abstrato, irreal, dogmático]. No atual presente [da sua época] a humanidade estaria rumando para o positivo ou Estado Cientifico. Não demorou muito e ele propôs o surgimento das ciências sociais e sua disciplina a sociologia. Essa disciplina se ocuparia em estudar o comportamento da sociedade. Comte ainda determinaria em seus estudos que a sociedade somente evoluiria através de duas formas:  
· Uma pouco perceptível, que seria as raças, o clima; 
· Outra mais dinâmica, que seria a ação polícia consciente. 
Desses pensamentos saiu o desejo de ordem na sociedade e o impulso aos homens através do progresso. São as duas palavras escritas na bandeira do Brasil. Seria a evolução social e econômica sem desordem, longe de tumultos ou rupturas bruscas. Ele ainda iria defender a idéia de que a sociedade não pode ser gerida por uma só pessoa, mas por um conjunto de sábios. Seriam os cientistas de modo geral, associados aos industriais que detinham a tecnologia da época. Essa aliança deveria dominar o mundo, garantindo o “bom” futuro da humanidade. Para que isso pudesse ser implementada, ele tratou de fazer uma série de críticas aos liberais, que conduziam o homem ao egoísmo e a divisão dos três poderes [executivo, judiciário e legislativo].  
Deveria então, haver uma ditadura positivista, que de cima para baixo aceleraria o progresso. Na ciência política essas idéias tiveram uma repercussão boa e se fez notar com idéias autoritárias e antidemocráticas, onde eleições e partidos políticos não faziam a menor diferença existirem, pois o governo sempre deveria ficar nas mãos de uma pequena elite. 

Um exemplo prático disso foi o fascismo na Itália no início dos anos 1920. Num segundo momento de seus estudos, considerado por alguns inclusive uma fase de loucura, Comte criou uma religião, denominada de “Apostolado da Humanidade”, onde Deus seria substituído pelo Grande-Rei. A recaída dele ao misticismo não foi bem aceita pelos seus seguidores. Muitos deles se afastaram ou acabaram se dividindo.
Karl Marx e o marxismo
O marxismo ou as idéias de Marx foi um sistema de idéias econômicas e políticas desenvolvida por Karl Marx.

Juntamente com o materialismo dialético, formou a base para a teoria e a prática do comunismo. Karl Marx nasceu na Alemanha, em 1818, e faleceu em 1883. As idéias de Marx revolucionaram o pensamento operário, pois foi a forma de interpretação da sociedade que mais se aproximou da realidade do trabalhador. Por influência de seus escritos, no século XIX foram fundados sindicatos de operários em praticamente toda a Europa. Outro fenômeno ligado ao Marx foi a criação de partidos políticos de orientação revolucionária. Os trabalhadores enfim tinham orientação teórica que indicava a luta contra o capitalismo como a alternativa de uma vida melhor.
Para Marx, o feudalismo teria sido sucedido pelo capitalismo, que na verdade se destinava a ser a passagem para o socialismo. Neste caminho, Marx e seu companheiro Engels visavam estabelecer o papel central das classes sociais e da luta delas. Sua atenção focalizava-se nas sociedades capitalistas, que eram vistas como cada vez mais polarizadas entre uma classe capitalista exploradora e uma classe trabalhadora empobrecida. Ele via os capitalistas como apropriadores (tomavam para si) e acumuladores do valor excedente gerado pelos trabalhadores, enquanto que os trabalhadores (o proletariado) ficavam cada vez mais pobres.
O desenvolvimento da indústria tornaria o capitalismo algo muito ruim e a classe trabalhadora estaria pronta para destruí-la através da revolução. Até meados do século XX, não existia nenhuma descrição ou explicação científica de como tinham sido as diferentes sociedades que haviam existido no passado da humanidade. Não havia documentos aprofundados que explicava como funcionava a sociedade daquela época, o capitalismo, como havia sido o processo de mudança, a passagem de uma sociedade a outra. As principais interpretações giravam ao redor de que tudo era obra da vontade de Deus, ou produto de alguma raça ou nacionalidade privilegiada. Segundo Marx, a história de toda a sociedade seria a história de lutas da luta entre as classes.
Marx desenvolveu alguns conceitos, entre eles podemos destacar os seguintes:
1) Burguesia ou classe capitalista.
Classe que controla e dirige o sistema de produção capitalista. Com dinheiro acumulado compra os meios de produção e força de trabalho a fim de obter uma quantidade de dinheiro maior do que a que investiu ao iniciar este processo. Dinheiro esse que obtém a partir do trabalho não pago aos trabalhadores do setor industrial.
2) Capital
Não é o mesmo que dinheiro. Um avarento que guarda o seu dinheiro debaixo do colchão e a única coisa que faz é mantê-lo guardado, não é um capitalista. Só se chama capital ao dinheiro que se emprega na compra de meios de produção (fábrica) e de força de trabalho (empregado contratado) para obter uma quantidade de dinheiro maior do que a que foi investida.
3) Capitalista
Temos três tipos de capitalistas:
Os capitalistas banqueiros (Bancos, Companhias de seguros, Empresas financeiras);
Os capitalistas industriais (Empresas Industriais, Agrícolas, Mineiras), que suga a mais-valia dos operários,
Os capitalistas comerciais ou donos de armazéns.
4) Proletariado. Classe explorada pelo modo de produção capitalista, formada pelos trabalhadores ligados à produção de bens materiais, que vendem a sua força de trabalho por um salário. Produz a mais-valia, subordinado às ordens dos seus superiores, que são os que, a diferentes níveis, controlam o processo.

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